A vice-presidente da Comissão Europeia Věra Jourová acredita que a Europa “está no meio de uma guerra de informação” e que não pode “ser ingénua” e deixar de reagir, combatendo a desinformação.
“Atualmente, na Europa, estamos no meio de uma guerra de informação. Temos de pensar se não seremos demasiado ingénuos para não reagir”, diz Věra Jourová, comissária dos Valores e da Transparência, em entrevista à Lusa, em Lisboa.
A comissária respondia a uma pergunta sobre a decisão, há dois anos, de proibir os ‘media’ estatais russos Sputnik e Rússia Today, decisão criticada na altura como um obstáculo à liberdade de expressão.
“Dei o meu melhor para explicar por que razão tínhamos de o fazer, que se tratava apenas de mais uma máquina de guerra de Putin.”
Věra Jourová, vice-presidente da Comissão Europeia
Věra Jourová refere um exemplo da Checoslováquia, onde nasceu: “Tivemos um estudante que se chamava Jan Palach e que se imolou em protesto contra a ocupação russa em 1968.
E deixou uma carta, uma lista de tarefas para aqueles que ficaram impressionados com o seu horrível sacrifício. Nessa carta havia dois pontos principais: o primeiro era proibir os meios de comunicação russos. E o segundo era proibir a censura”, relata.
“Não vejo nenhuma contradição nisso”, sublinha.
A comissária lamenta todavia que a sanção àqueles ‘media’ não seja 100% eficaz, e diz que lhe é “doloroso ver, por exemplo, no YouTube, como algumas narrativas são difundidas, por exemplo em África, pela Russia Today e pela Sputnik”.
Aqueles meios, insiste, “utilizam as palavras como arma”, razão pela qual foram colocados na lista de sanções.
Outra medida tomada, aponta, foi a criação de um programa de apoio a jornalistas russos exilados na UE.
“Temos várias centenas deles e estou a apoiá-los através de um programa específico, de um projeto específico, a que chamei, de forma provocatória, Rádio Rússia Livre.
Considero que é a coisa certa a fazer. Permitir que os jornalistas russos exilados continuem o seu trabalho na UE e estamos a tentar conseguir isso”, afirma.
Sobre a interferência russa na Europa, a comissária explica que há três condições que facilitam essa intromissão: a proximidade histórica e linguística, a presença de partidos predispostos à propaganda russa e a falta de literacia mediática e digital das populações.
“Tenho a certeza de que o Sr. Putin tem uma análise muito boa sobre onde investir. Ele não tem dinheiro suficiente para todas as aventuras de guerra, por isso tem de ter um bom objetivo”, afirma.
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