O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, lembra receios anteriores à adesão de Portugal à União Europeia (UE), que após ultrapassados permitiram criar um bloco “muito mais forte”, vincando que os Estados-membros devem preparar-se até 2030 para expansão.
“Eu venho de um dos Estados-membros fundadores, a Bélgica, e em cada alargamento os países membros nessa altura estavam preocupados com o que poderia significar o alargamento, incluindo quando Espanha ou Portugal aderissem à UE. Na altura, havia preocupações e a impressão de que a situação poderia mudar a natureza da solidariedade no seio da UE, mas veja quais são os resultados, quais são os factos – é que o facto de Portugal e Espanha e muitos outros países terem aderido tornou a Europa muito mais forte”, disse Charles Michel em entrevista à agência Lusa.
No dia em que se desloca a Portugal para participar na reunião anual da organização Concordia Europe, o presidente do Conselho Europeu questiona também: “Consegue imaginar qual seria a situação atual se, face ao papel da Rússia contra a Ucrânia, não o tivéssemos feito um alargamento à parte oriental da Europa?”.
“Isso significaria muito mais incertezas, muito mais perigo para nós, e o facto de termos esses países dentro do mesmo projeto político, com a mesma orientação política, é muito mais protetor, muito mais seguro”, argumenta Charles Michel.
Numa altura em que defende a data de final de junho para arranque das negociações formais de adesão da Ucrânia à UE, o responsável salienta que o bloco comunitário “tem de se preparar e não só para pedir aos países candidatos que façam o seu próprio trabalho”.
Quanto à data para uma eventual expansão da UE, “penso que temos de fazer tudo para nos prepararmos até 2030”, afirma Charles Michel na entrevista à Lusa, indicando que “isso não significa que haverá novos Estados-membros em 2030”, mas sim que a União “deve estar preparada para uma decisão específica após resolver aspetos técnicos”.
“Seria um erro se não estivéssemos preparados. Isso tornaria a vida dos nossos filhos mais incerta”, adianta Charles Michel à Lusa.
A posição surge depois de, no final de março, a Comissão Europeia ter proposto que países candidatos à União Europeia – como Ucrânia, Moldova ou os Balcãs Ocidentais -, tenham uma integração gradual no espaço comunitário e em certas políticas do bloco antes da oficialização da adesão, como tem defendido Portugal.
O alargamento é o processo pelo qual os Estados aderem à UE, após preencherem requisitos ao nível político e económico.
Atualmente, são países candidatos à UE a Albânia, Bósnia-Herzegovina, Geórgia, Moldova, Montenegro, Macedónia do Norte, Sérvia, Turquia e a Ucrânia, sendo o Kosovo um potencial candidato.
A Ucrânia tem estatuto de país candidato à UE desde meados de 2022, meses depois do início da invasão russa.
Na entrevista, Charles Michel abordou também a prioridade da defesa e segurança da UE precisamente num contexto de contínua invasão russa da Ucrânia e de outras tensões geopolíticas mundiais.
Observando que hoje existe vontade política quanto a esta prioridade, Michel diz-se ainda “certo de que a UE conseguirá encontrar futuros projetos no domínio da defesa”, sendo “uma das possibilidades” para o financiar nova emissão de dívida conjunta.
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