Eurodeputados do BE, PCP, PS afirmaram na quinta-feira que um novo comissário europeu da Habitação não resolve, por si só, o problema da habitação em países como Portugal, enquanto IL e Chega falaram numa competência nacional e PSD mostrou-se otimista.

O Parlamento Europeu aprovou na quinta-feira a recondução no cargo da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, por mais cinco anos, com 401 votos favoráveis dos eurodeputados na votação em plenário em Estrasburgo, acima dos 360 necessários. Mas, ainda antes da sua reeleição, Von der Leyen anunciou num discurso dirigido ao hemiciclo que terá um novo comissário para a Habitação, visando maior acessibilidade na União Europeia (UE).

Perante os eurodeputados, a responsável especificou que a UE “enfrenta uma crise de habitação, que afeta pessoas de todas as idades e famílias de todas as dimensões” pois os “preços e as rendas estão a subir em flecha” e as “pessoas estão a lutar para encontrar casas a preços acessíveis”, situação que afeta países como Portugal, razão pela qual será criada a nova pasta e um Plano Europeu para a Habitação Acessível para ajudar a desbloquear investimento.

Reagindo a tal anúncio já após a reeleição na sessão plenária em Estrasburgo, a eurodeputada bloquista (BE), Catarina Martins, que votou contra Von der Leyen, disse que “criar um comissário é fazer um anúncio que redonda em nada”.

“Nós podemos ter ideias para criar comissários, podemos até fazer de tudo com o nome da habitação, [mas] resta saber se as pessoas depois vão ter direito à habitação e eu acho que, em Portugal, as pessoas sabem bem como muitos anúncios não dão direito à habitação se não se pararem com processos especulativos”, acrescentou.

Pelo PCP, João Oliveira apontou que Von der Leyen falou “de habitação, mas não (…) de levantamento das restrições ao investimento público”, falando num “discurso que, mesmo quando aflora algumas questões, não aponta nenhuma solução para as contradições”.

“Esta é uma reeleição que certamente agrada aos grupos económicos, aos bancos, às multinacionais, incluindo as farmacêuticas e a indústria do armamento, mas não serve aos povos, não serve os interesses dos povos nem resposta aos seus problemas”, adiantou, após ter votado contra a recondução da política alemã de centro-direita.

Embora se tenha mostrado agradada com a colocação do tema da habitação na agenda europeia, como pedido pelos socialistas, a eurodeputada do PS Marta Temido apontou que “a criação apenas de um comissário não resolve por si só o problema”, devendo reforçar-se o “modelo social europeu”.

Ainda assim, assinalou que “a senhora Von der Leyen foi mais longe do que aquilo que é a sua família política e mostrou que é possível fazer consensos com aproximações”.

Tal como Marta Temido, também o eurodeputado liberal João Cotrim de Figueiredo votou a favor de Von der Leyen, mas indicou aos jornalistas portugueses em Estrasburgo estar “muito curioso para ver exatamente quais são as competências” deste novo comissário “porque nenhum Estado-membro que se preze deve achar normal que uma área de soberania específica venha agora a ser resolvida pela UE”.

“O que eu acho é que a União Europeia pode fazer, para já, é espalhar as boas práticas”, referiu.

António Tânger Corrêa, do Chega, disse que “não é Von der Leyen que vai resolver o problema da habitação em Portugal”.

Após ter votado contra a sua reeleição, o eurodeputado de extrema-direita defendeu que “esse é um assunto dos países” e que deveria ser “o Governo português a intervir”.

Já o PSD, da família política de Ursula von der Leyen, o Partido Popular Europeu (PPE), afirmou pela voz de Sebastião Bugalho que esta nova pasta “abre um horizonte de esperança para quem quer ver essa crise resolvida”, descrevendo o anúncio como um “bom início”.

O eurodeputado social-democrata (que votou a favor da recondução) falou ainda num “resultado bom”, numa referência à votação que ditou a reeleição de Von der Leyen.

A votação de na quinta-feira ocorreu na primeira sessão plenária da nova legislatura da assembleia europeia, em Estrasburgo, França, com 401 votos favoráveis, 284 contra, 15 abstenções e sete nulos.

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