A Comissão Europeia estima gerar pelo menos 1,2 biliões de euros em 10 anos ao incentivar os cidadãos da União Europeia a aplicarem as suas poupanças em investimentos produtivos, apostando em literacia financeira e em modelos mais acessíveis.
Em causa estão duas iniciativas hoje apresentadas em Bruxelas – a Estratégia de Literacia Financeira e soluções para Contas de Poupança e Investimento -, com as simulações da instituição a indicarem que, “num cenário otimista, ao transferir parte das suas poupanças para investimentos produtivos, os cidadãos poderiam aumentar o investimento em ativos da UE em mais de 1,2 biliões de euros ao longo de 10 anos”, disse a comissária europeia portuguesa, Maria Luís Albuquerque.
Em conferência de imprensa na capital belga na apresentação destas recomendações aos países da União Europeia (UE), a responsável pelas pastas dos Serviços Financeiros e da União da Poupança e do Investimento referiu estarem em causa “soluções concretas aos cidadãos para que possam rentabilizar melhor o seu dinheiro” através de “decisões financeiras mais informadas, investindo em si próprios e no seu futuro”.
“Tal permitiria disponibilizar fontes de financiamento adicionais às empresas europeias, impulsionando assim o crescimento económico e a criação de emprego em toda a Europa, bem como a competitividade europeia”, referiu.
Questionada pela Lusa na ocasião, Maria Luís Albuquerque explicou que a expectativa de arrecadar 1,2 biliões de euros é calculada com base no pressuposto de que as pessoas na UE que compram têm a mesma percentagem investida no mercado e retornos semelhantes aos das médias atuais.
“Eu diria que facilmente será melhor se nós rapidamente começarmos a implementar isto e se os nossos cidadãos perceberem que de facto há aqui uma oportunidade importante para porem o seu dinheiro a trabalhar para eles”, observou a responsável.
Quanto aos prazos, a comissária europeia portuguesa apontou que a instituição “coloca isto do lado dos Estados-membros para que eles as [estratégias] possam implementar”.
“Temos a expectativa – e faremos os esforços nesse sentido – de que haja uma rápida implementação no terreno porque nós temos estes recursos disponíveis”, indicou.
Por isso mesmo, a Comissão Europeia avançou com recomendações aos países em vez de “rígida legislação”, adiantou Maria Luís Albuquerque, admitindo que a instituição monitorize os esforços de implementação através do pacote de coordenação das políticas orçamentais do Semestre Europeu.
Quando menos de um quinto dos cidadãos europeus apresentam um nível elevado de literacia financeira, a estratégia hoje proposta prevê que os países façam campanhas de comunicação e de sensibilização (por exemplo, sobre como gerir o orçamento familiar ou como escolher um produto financeiro) e financiem a investigação nesta área.
Por seu turno, é também pedido que sejam disponibilizadas Contas de Poupança e Investimento para operações de compra e venda de ativos sem obstáculos e mais flexíveis.
Dados do Banco Central Europeu indicam que, todos os anos, a UE perde 470 mil milhões de euros de investimento que não é feito na UE devido à falta de uma União dos Mercados de Capitais.
Isto num contexto em que, após a pandemia de covid-19, a UE dispõe hoje de 33 biliões de euros em poupanças privadas, predominantemente detidas em moeda e depósitos.
São estas perdas que a Comissão Europeia quer colmatar, nomeadamente após os relatórios sobre competitividade da economia europeia elaborados pelos antigos primeiros-ministros italianos Enrico Letta e Mario Draghi terem defendido uma União da Poupança e do Investimento para não só manter as poupanças privadas na UE, mas também atrair recursos adicionais do estrangeiro.
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